Encerramento de projeto revolta
pais e alunos de escola no bairro do Vale Verde. Pais dizem que vão
apelar ao Ministério Público.
Pais e alunos da Unidade Municipal de Ensino (UME) Mário de Oliveira
Moreira, localizada no Vale Verde, em Cubatão, protestaram na manhã de
ontem, na porta da escola, contra o encerramento, em janeiro e sem
motivo aparente, do Projeto Transformar, reconhecido por reorganizar o
meio escolar, oferecer currículo diferenciado e utilizar, de forma
pioneira, o professor mediador.
Instituído por meio de uma resolução municipal de novembro de 2011, o
Transformar tinha como metodologia aulas de roteiro, aprofundamento e
oficinas temáticas, facilitando o aprendizado e, anos atrás, foi
apresentado no 2º Encontro Município que Educa, realizado em Garça (SP),
pela União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime/São Paulo),
gerando elogios de outros municípios.
Também foi reconhecido pela Assembleia Legislativa. Segundo pais de
alunos, antes não existiam aulas vagas, os professores eram motivados e
ficavam mais próximos dos alunos, além das matérias terem o mesmo peso.
Sem o projeto, os alunos ficam ociosos e vão mais cedo para casa, as
oficinas foram canceladas, os professores faltam, algumas matérias são
esquecidas e a escola deixou de ser referência.
Pais e alunos querem a volta do Projeto Transformar
Neide Gonzaga Mantovani disse que os pais deverão apelar ao Ministério
Público para trazer de volta o projeto. Mãe e tutora de aluno, ela
critica o secretário municipal de Educação, Fábio de Oliveira Inácio,
que, no mesmo tempo que institui o projeto, o encerrou sem dar
satisfação à comunidade.
“Esse projeto era para durar quatro anos. A escola foi escolhida como
piloto e o projeto seria avaliado a cada dois anos. Os alunos estavam
amando o projeto e os pais participavam. Em outubro do ano passado, o
Fábio Inácio chegou a convocar professores para participar do projeto. A
desculpa para encerrá-lo foi falta de dinheiro e enchente no Município,
que só aconteceu depois do encerramento do Transformar. Isso é
brincadeira!”, afirma Neide. Outra mãe, Suse dos Reis, disse que os
alunos do último ano do Ensino Fundamental vêm sendo os mais
prejudicados. “Eles estão prestes a entrar no Ensino Médio e estavam com
uma boa base.
Com o projeto, os alunos deixaram de ser copiadores de matéria para se
tornarem pesquisadores. Hoje, está tudo acabado”, explica. Adriana
Guerra revela que um dos alunos chegou a receber prêmio e “hoje, a
maioria dos alunos querem deixar a escola”, comenta, acompanhada de
Luciana Mendonça que completa: “minha filha quer estudar em outra escola
porque não vê futuro nessa, que nem prova faz mais”. O aluno Leonardo
Mantovani diz que vê com tristeza o fim do projeto.
“Ficamos sabendo do fim quatro dias antes da volta às aulas. Foi
marcada uma reunião e a Secretaria de Educação nem mandou representante.
Ficamos sabendo que o projeto parou em perseguição a professores que
participaram de manifestação pelo 13º salário atrasado”, afirma.
Victória de Mendonça salienta que os prejuízos são visíveis. “Antes, nós
saíamos da escola no tempo certo e tínhamos qualidade no ensino. Hoje,
nem matéria é dada com frequência para que possamos fazer provas”.
Câmara
A situação já chegou à Câmara. O vereador Severino Tarcício da Silva, o
Doda (PSB), resolveu comprar a briga dos pais e alunos da escola. Ele
revela que, além do encerramento do projeto, a escola perdeu
infraestrutura.
“O prédio está danificado e a água vem por carro pipa”, comenta,
enfatizando que os alunos estão perdendo aula. Doda ratifica a versão do
aluno de que o encerramento do projeto foi em represália a 12
professores que participaram de uma manifestação por direitos
trabalhistas. “O ódio não pode estar à frente da razão. Márcia Rosa está
prefeita e não é eterna”.
Prefeitura
Ontem à tarde, houve uma reunião na Prefeitura com as partes envolvidas
— Secretaria da Educação, pais, alunos, professores e vereadores. Uma
ata da reunião foi encaminhada ao Ministério Público. A Prefeitura
informou, após a reunião, que o projeto foi finalizado porque se tornou
inviável tanto para sua continuidade quanto para sua extensão às demais
escolas municipais após a crise financeira que a Prefeitura enfrenta com
a queda de arrecadação de ICMS.
Isso porque a necessidade de carga exclusiva dos professores na escola
acaba reduzindo o quadro em outras unidades. Essa situação somente
poderia ser equacionada pela contratação de mais professores ou
ampliação de jornada o que, nesse momento, pelas dificuldades
conhecidas, é inviável.
Embora contestado pela outra parte, a Administração afirma que “a
Secretaria de Educação (Seduc) vem se reunindo com representantes dos
pais e alunos para esclarecer os fatos, bem como para encontrar uma
alternativa que atenda aos interesses da comunidade escolar e às
disponibilidades financeiras atuais da Prefeitura”.
Uma alternativa proposta pela Seduc é o retorno do projeto nos moldes
de 2011. Naquela ocasião, primeiro ano de implantação do Transformar, os
professores não ampliavam a jornada de trabalho na própria UME Mário de
Oliveira, ficando à disposição da Seduc para assumir aulas em outras
unidades escolares.